sábado, 14 de maio de 2011

FILOSOFANDO -"QUEM TEM MEDO COMPRA UM CÃO"



(...) A Razão governa o mundo e, consequentemente, governa e governou a história universal. Em relação a essa razão universal e substancial, todo o resto é subordinado e serve-lhe de instrumento e de meio. Ademais, essa Razão é imanente na realidade histórica, realiza-se nela e por ela. É a união do Universal existente em si e por si e do individual e do subjecitvo que constitui a única verdade.·
Georg Hegel, in 'Propedêutica Filosófica', 'Enciclopédia das Ciências Filosóficas' e 'Curso de 1830'

Uma das características do ser humano é a sua capacidade de se reinventar em momentos difíceis.
Ao longo da história, assistimos a essa capacidade de empreendedorismo, em que na mais profunda crise de valores, surgiram as mais extraordinárias soluções. Nada de novo! É nas maiores dificuldades que encontram as melhores soluções.
Ora, todos nós sabemos e sentimos na pele a enorme crise que se abateu sobre o nosso País.
Resultado de um longo processo, onde erros estratégicos do passado condicionaram de forma determinante o presente e o futuro. A culpa aqui não morre sozinha. Está perfeitamente acompanhada por todos.
Olhando para a classe política que, em primeira instância, é a maior culpada, quer a Direita, quer a Esquerda, têm perdido ao longo dos anos a sua fertilidade, estando actualmente totalmente estéril nas ideias, nos projectos e nas acções.
Olhando para a sociedade civil, tem enormes responsabilidades neste estado ignóbil em que nos encontramos, por ter sido pouco exigente perante os políticos, os legisladores e pior, ter delegado a terceiros, aquilo que é a sua função: responsabilizar e penalizar. É por isso mesmo que vivemos em Democracia: neste regime, os cidadãos têm não só a possibilidade de expressar livremente o seu pensamento, como podem, e devem, fiscalizar e controlar a quem, por voto livre, lhe conferiu a procuração de gerir o seu destino. Ora, isto não tem acontecido. Lamentamos a má sorte, criticamos tudo e todos, mas na hora da verdade, encolhemos os ombros e escolhemos o caminho mais fácil.
Seguindo a lógica que é nos piores e mais difíceis momentos que o Homem rasga o horizonte e se supera, infelizmente esta mesma lógica, está longe de se verificar neste momento da história deste País. Senão vejamos:
Em plena campanha eleitoral e face ao enquadramento económico do nosso País, largamente divulgado, sabemos todos que estamos condicionados por um Acordo/Imposição da Troika. Diria mais, as regras estão definidas, impostas e se quisermos sobreviver só temos mesmo que cumprir com a nossa parte. E o que ouvimos da parte dos partidos? Nada, rigorosamente nada! Mais do mesmo, discursos pré-formatados, seguindo uma lógica de agenda politica. Se analisarmos em detalhe, vemos uma Esquerda com um discurso estagnado no tempo, repetitivo. Até a esperança de uma Esquerda renovada com o aparecimento do Bloco, esfumou-se. O PCP, embora cativo a uma ideologia já desenquadrada face à realidade do mundo de hoje, mantém a sua lealdade a um discurso inalterável. Aqui, pelo menos, estamos perante uma enorme coerência, diga-se em abono da verdade, mas. virado a uma força politica centrada numa personalidade quea !M por umtoral, fiscalizar ..Nada de novo…o mundo mudou, eles não! O PS, subjugado à vontade do líder, está virado a uma força política cuja ideologia é uninominal. Se há vozes discordantes, essas foram submetidas a um assustador silêncio. Aqui, a novidade é apenas e somente a nova forma de fazer política: a mentira tem a validade, a incompetência é reconhecida e o mais ultrajante, parte-se do pressuposto que o povo foi submetido à mais profundamente estupidificação. O insulto à inteligência é diariamente feito…basta ouvir as barbaridades e a conduta do Primeiro-ministro, reconduzido ao cargo de Secretário-geral do PS com uma redundante vitória. Prosseguindo…nada de novo. A Direita…bom… a Direita está bem torta. O PSD anda totalmente perdido. São erros atrás de erros. Deslumbrado pela possibilidade única de voltar ao poder, perdeu-se. Aqui permito-me a dizer…cada cavadela sua minhoca e os pés estão todos furados com os tiros dados. A irresponsabilidade do PSD e do seu líder é tão gritante que parece uma criança a quem se deu um brinquedo demasiado desejado e por isso mesmo, nem consegue brincar. É tão grave levar uma empresa á falência, como ter as condições para a salvar e nada fazer. Decepcionante…profundamente decepcionante. Quanto ao CDS, alguém dentro do partido se lembrou do provérbio”Em terra de cego, quem tem olho é rei”. O Líder do CDS captou rapidamente a conjuntura actual e tem pautado a sua intervenção por uma postura responsável colocando a tónica do seu discurso nos problemas sociais que afectam os mais carenciados. Mas não sejamos inocentes…o CDS nada tem a perder…tudo o que vier é ganho. Sabe que no enquadramento actual, é quase certo que será chamado a fazer uma coligação e que, de alguma forma, o CDS irá entrar na jogada. Será histórico o resultado do CDS nestas eleições; por ser diferente, inovador? Não! Simplesmente porque os adversários são maus muito maus.
Perante tudo isto, seria legitimo pensar que a sociedade civil, cansada de ser manipulada, enganada, insultada, faria o seu papel…infelizmente o passado recente provou que o Poder é embriagante e qualquer homem tem o seu preço. Aqui, a decepção foi enorme e a ilusão que algo de novo estava a acontecer, foi apenas e somente isso…uma enorme ilusão.

E, assim, estamos no presente: um País em recessão, com um plano escrito a letras bem vermelhas pela Troika, a obrigar-nos a fazer algo que esta Democracia já madura, deveria saber fazer e bem. Em paralelo, uma classe política gasta, sem soluções, que nos dão diariamente mais do mesmo…a Empresa vai à falência, sabe-se bem as linhas estratégicas para a salvar, mas ninguém quer saber, porque isso obrigava a deixar de olhar para o chão, onde estão as suas próprias sombras e olhar o horizonte onde está o futuro.
Talvez quando nos parecer que já não há saída nenhuma, surja um Platão que nos dirá:
“Vocês que julgam ver a realidade, estão iludidos. O que vêm são apenas sombras da realidade. Para a verem têm que quebras as correntes dessa ilusão. O processo é difícil, doloroso, mas quem o fizer será profundamente recompensado porque verá a Luz”.
É necessário ousar…
É necessário quebrar o paradigma: Questionar o nosso sistema político, a nossa Constituição, as leis que nos regem e, reformular ou mesmo mudar radicalmente.
É necessário repensar tudo de novo porque o que hoje nos parece um absoluto disparate, amanhã poderá ser a verdade. A História está aí para o provar… durante milhares de anos a verdade era: a terra é plana, estática, centro do todo o universo. Até que um dia, um louco afirmou…”E, apesar de tudo, ela move-se!”
E afinal, do que temos medo? Da mudança, do desconhecido? Não, julgo que deveremos ter medo de repetirmos os erros do passado, mais FMI’S, mais Troikas, mais governações irresponsáveis, politica, fórmulas gastas e usadas. E, parafraseando alguém que é um gestor de sucesso, um verdadeiro líder e com o qual aprendi imenso:
“Se tem medo, compre um cão; se mesmo assim, continuar com medo, compre outro. E se apesar de tudo, ainda continuar com medo…olhe, não sei o que lhe faça!”
Pois é…não sei mesmo o que faça!
EME

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